Você sabe quem foi Alan Turing? Conheça agora este cientista que desvendou os segredos nazistas e criou a ideia de Inteligência Artificial.
Quem foi Alan Turing?
Um dos mais notáveis e influentes matemáticos, criptoanalistas e cientistas da computação do século XX, Alan Turing deixou um legado impressionante para a ciência, que moldaria tudo que foi produzido em termos de ciência da computação e de matemática aplicada. Além de suas contribuições para a ciência, ele foi essencial nos esforços durante a Segunda Guerra Mundial, liderando a equipe que quebrou os códigos alemães, e levando à vitória dos Aliados.
Sua máquina teórica, conhecida como Máquina de Turing, foi um marco fundamental no desenvolvimento dos computadores modernos e estabeleceu os fundamentos da ciência da computação. Além disso, suas pesquisas em biologia matemática, particularmente em morfogênese, continuam a influenciar o campo até os dias de hoje.
Apesar de suas realizações notáveis, a vida pessoal de Turing foi marcada por desafios e tragédias, incluindo sua condenação por homossexualidade em uma época em que tais relações eram criminalizadas no Reino Unido. A sua morte prematura em 1954, sob circunstâncias controversas, privou o mundo de uma mente brilhante e inovadora. No entanto, seu legado permanece vivo através de suas contribuições revolucionárias para a ciência e sua influência duradoura na sociedade moderna.
Conheça um pouco mais sobre este gênio do século XX.
A Vida de Alan Turing
Alan Turing nasceu em Maida Vale, Londres, em 23 de junho de 1912. Seu pai, Julius Mathison Turing, estava temporariamente na Índia devido ao seu trabalho no Serviço Civil Indiano. A família, que tinha raízes escocesas e irlandesas, mudou-se para a Grã-Bretanha quando Alan era criança. Seu pai continuava trabalhando na Índia, então Alan e seu irmão ficavam aos cuidados de um casal aposentado do Exército enquanto seus pais viajavam.
Desde cedo, Turing mostrou uma incrível aptidão para a matemática e a ciência. Frequentou várias escolas, incluindo a St. Michael’s e a Sherborne School, onde enfrentou desafios por sua preferência pelas ciências em detrimento dos clássicos, de acordo com a visão dos professores. Apesar das críticas, Turing continuou a se destacar academicamente e, aos 16 anos, já estava envolvido com o trabalho de Albert Einstein, demonstrando uma compreensão notável dos conceitos complexos da física.
Amizade com Christopher Morcom
A amizade de Alan Turing com Christopher Morcom foi uma parte significativa de sua vida em Sherborne. Morcom foi descrito como o “primeiro amor” de Turing e sua relação foi uma fonte de inspiração para ele. No entanto, essa amizade foi abruptamente interrompida pela morte prematura de Morcom devido a complicações da tuberculose bovina.
A perda de Morcom foi devastadora para Turing, e ele canalizou sua tristeza para o trabalho, dedicando-se ainda mais aos estudos de ciência e matemática que compartilhava com seu amigo. Em uma carta para a mãe de Morcom, Turing expressou o quanto considerava Christopher um companheiro brilhante e encantador, e como ele continuaria a dedicar-se ao seu trabalho em homenagem a Morcom.
Mesmo após a morte de Morcom, Turing manteve contato com sua mãe, trocando presentes e cartas, especialmente em datas significativas como aniversários. Ele escreveu cartas emotivas, expressando seu carinho por Christopher e sua mãe, mantendo viva a memória de seu amigo.
Alguns sugeriram que a morte de Morcom influenciou as crenças de Turing, levando-o ao ateísmo e ao materialismo. No entanto, em suas correspondências, Turing ainda demonstrava uma crença em uma conexão entre espírito e matéria, embora reconhecesse que essa conexão poderia não ser da mesma forma após a morte do corpo físico.
Vida Acadêmica e Profissional
Após concluir seus estudos em Sherborne, Alan Turing ingressou no King’s College, Cambridge, onde estudou de 1931 a 1934 e se destacou com honras de primeira classe em matemática. Em 1935, aos 22 anos, Turing tornou-se membro do King’s College após apresentar uma dissertação na qual demonstrou o teorema central do limite. Embora desconhecesse na época, o teorema já havia sido provado em 1922 por Jarl Waldemar Lindeberg. Uma placa azul foi instalada na faculdade em comemoração ao centenário do nascimento de Turing em 23 de junho de 2012.
No ano seguinte, em 1936, Turing publicou seu famoso artigo “Sobre números computáveis, com uma Aplicação ao Entscheidungsproblem”. O artigo foi divulgado em duas partes no periódico Proceedings of London Mathematical Society, em 30 de novembro e 23 de dezembro, respectivamente.
Apesar de ter publicado sua prova logo após Alonzo Church ter demonstrado o mesmo utilizando seu cálculo lambda, a abordagem de Turing era mais acessível e intuitiva. Ele introduziu a ideia da “Máquina Universal”, que mais tarde seria conhecida como a máquina de Turing universal, capaz de realizar qualquer tarefa que outra máquina de computação pudesse realizar. Esta ideia, junto com o cálculo lambda de Church, contribuiu para a tese de Church-Turing, que estabelece que máquinas de Turing e o cálculo lambda são capazes de computar tudo que é computável.
De 1936 a 1938, Turing estudou na Universidade de Princeton, onde também construiu parte de um multiplicador binário eletromecânico e realizou estudos em criptologia. Em 1938, obteve seu PhD no Departamento de Matemática de Princeton, com uma dissertação que introduzia o conceito de lógica ordinal e a noção de computação relativa, expandindo o escopo das máquinas de Turing. Embora tenha recebido uma oferta para ser assistente de pós-doutorado de John von Neumann, Turing optou por retornar ao Reino Unido.
Pesquisas de Turing
Após seu trabalho em Bletchley Park durante a Segunda Guerra Mundial, Alan Turing retornou a Cambridge, onde participou de palestras ministradas por Ludwig Wittgenstein sobre os fundamentos da matemática em 1939. Turing e Wittgenstein tiveram debates e divergências, com Turing defendendo o formalismo enquanto Wittgenstein argumentava que a matemática não descobre verdades absolutas, mas as inventa.
Durante a guerra, Turing desempenhou um papel crucial na quebra dos códigos alemães em Bletchley Park. Sua contribuição foi fundamental, sendo reconhecido como um “gênio” por seus colegas. Utilizando técnicas estatísticas inovadoras, Turing escreveu dois artigos importantes sobre criptografia, que só foram tornados públicos muitos anos depois devido à sua importância para o pós-guerra.
Turing era conhecido por suas peculiaridades em Bletchley Park, sendo chamado carinhosamente de “Prof” pelos colegas. Seu talento não se limitava à matemática e à criptoanálise; ele também era um corredor excepcional, capaz de alcançar padrões de classe mundial. Em 1946, Turing foi nomeado oficial da Ordem do Império Britânico (OBE) por seus serviços de guerra, embora seu trabalho tenha permanecido em segredo por muitos anos.
Turing e a Enigma
Alan Turing chegou a Bletchley Park durante a Segunda Guerra Mundial e rapidamente propôs o projeto de uma máquina eletromecânica conhecida como bomba, mais eficaz do que a versão polonesa, para decifrar a máquina Enigma alemã. Junto com Gordon Welchman, Turing aprimorou a bomba, que se tornou a principal ferramenta automatizada para decifrar as mensagens codificadas pela Enigma. A bomba funcionava detectando contradições nas configurações possíveis da máquina Enigma, descartando as configurações impossíveis e investigando apenas as plausíveis. Logo, mais de duzentas bombas estavam em operação até o fim da guerra, contribuindo significativamente para os esforços de decifração.
Turing também enfrentou o desafio do Enigma naval alemão, desenvolvendo uma técnica estatística sequencial chamada Banburismus, que ajudou a reduzir o tempo necessário para testar as configurações nas bombas. Sua contribuição foi essencial para o sucesso do Hut 8, onde trabalhava, embora tenha sido subestimada pelo mundo exterior. Após uma viagem aos Estados Unidos em 1942, Turing retornou a Bletchley Park e continuou sua contribuição como consultor geral de criptoanálise, desempenhando um papel fundamental no esforço de decifração durante a guerra.
O Teste de Turing – A invenção do computador
Alan Turing foi uma figura central no desenvolvimento da ciência da computação e da inteligência artificial. Entre 1945 e 1947, enquanto trabalhava no Laboratório Nacional de Física em Londres, Turing contribuiu significativamente para o projeto do computador ACE (Automatic Computing Engine), apresentando um projeto detalhado que antecedeu muitas outras propostas semelhantes. Além disso, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do Manchester Mark 1, um dos primeiros computadores com programas armazenados.
Um dos legados mais duradouros de Turing foi o conceito do teste de Turing, proposto em 1950. Esse teste desafiou a definição de inteligência artificial, sugerindo que uma máquina poderia ser considerada “inteligente” se pudesse enganar um interrogador humano ao ponto de este não poder diferenciá-la de um ser humano durante uma conversa. O teste de Turing continua a alimentar debates sobre inteligência artificial até os dias de hoje.
Além de suas contribuições para a computação, Turing também se aventurou na biologia matemática, publicando em 1952 um trabalho pioneiro intitulado “A Base Química da Morfogênese”. Nesse trabalho, ele propôs um modelo, conhecido como sistema reação-difusão, para explicar o desenvolvimento de padrões e formas em organismos biológicos. Embora tenha sido publicado antes da compreensão moderna do papel do DNA, o trabalho de Turing sobre morfogênese continua relevante e influente na biologia matemática contemporânea.
A Vida e a Morte de Alan Turing
Alan Turing, renomado matemático e pioneiro da ciência da computação, teve uma vida pessoal marcada por desafios e tragédias. Em 1941, ele propôs casamento a Joan Clarke, uma colega do Hut 8, onde trabalhava como criptoanalista. No entanto, após revelar sua homossexualidade a ela, Turing decidiu cancelar o noivado, reconhecendo que não poderia prosseguir com o casamento.
Em 1952, aos 39 anos, Turing iniciou um relacionamento com Arnold Murray, o que acabou levando à sua condenação por “indecência grosseira”, de acordo com as leis da época no Reino Unido. Turing foi forçado a escolher entre prisão e liberdade condicional, sendo esta última condicionada à sua concordância em passar por tratamentos hormonais destinados a reduzir sua libido. Esses tratamentos tiveram efeitos devastadores em sua saúde física e mental.
A condenação por indecência resultou na remoção de sua habilitação de segurança e na impossibilidade de continuar seu trabalho como consultor de criptografia. Além disso, ele foi proibido de entrar nos Estados Unidos e enfrentou restrições significativas em sua vida profissional.
A tragédia atingiu Turing novamente em 1954, quando ele foi encontrado morto, aos 41 anos, em sua casa. A causa da morte foi estabelecida como intoxicação por cianeto, e seu falecimento foi oficialmente declarado como suicídio. No entanto, teorias alternativas sobre as circunstâncias de sua morte foram propostas, incluindo a possibilidade de acidente ou assassinato.
Apesar das adversidades pessoais que enfrentou, Alan Turing deixou um legado duradouro na ciência da computação e na inteligência artificial. Sua contribuição para a derrota da Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial e suas inovações teóricas continuam a ser reconhecidas e celebradas até os dias de hoje.
Legado e Homenagens a Alan Turing
O legado de Alan Turing transcende sua vida e suas realizações, permeando o mundo da ciência da computação, matemática e além. Suas contribuições inovadoras são amplamente reconhecidas e homenageadas em todo o mundo.
Turing recebeu várias honras e prêmios durante sua vida, incluindo ser nomeado oficial da Ordem do Império Britânico em 1946 e eleito membro da Royal Society em 1951. Sua cidade adotiva, Manchester, prestou homenagem a ele de várias maneiras, incluindo a nomeação de uma estrada como “Alan Turing Way” e uma estátua em Sackville Park, onde ele é retratado segurando uma maçã, símbolo de sua morte enigmática.
Sua influência na computação é tão significativa que a revista Time o nomeou uma das 100 pessoas mais importantes do século XX, reconhecendo sua contribuição fundamental para o desenvolvimento das máquinas modernas. Sua famosa Máquina de Turing continua a ser um conceito fundamental na teoria da computação.
Em 2014, sua vida e obra foram imortalizadas no filme “O Jogo da Imitação”, com Benedict Cumberbatch no papel de Turing. O filme retrata seu papel crucial na quebra dos códigos alemães durante a Segunda Guerra Mundial e destaca sua genialidade e coragem diante da adversidade.
Embora Turing tenha sido reconhecido e celebrado, também houve controvérsias e desafios em sua homenagem. Em 2020, uma escultura em sua homenagem planejada para o King’s College, em Cambridge, foi barrada devido a objeções da Comissão de Monumentos e Edifícios Históricos do governo britânico.
Apesar das dificuldades e tragédias em sua vida pessoal, o legado de Alan Turing continua a inspirar gerações futuras de cientistas, matemáticos e pensadores em todo o mundo. Sua genialidade e contribuições para a humanidade permanecem como testemunhos de sua grandeza e impacto duradouro.
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