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Viagens no tempo Parte 2 – Da magia ao DeLorean

Como eram as primeiras histórias de Viagens no Tempo? O que elas têm a ver com as tragédias gregas? Como surgiu a máquina do tempo? Veremos isso e muito mais em Viagens no Tempo Parte 2

Como vimos na primeira parte, as tragédias gregas já apresentavam alguns conceitos utilizados nas história de viagens no tempo. Em Viagens no tempo parte 2 nós veremos como o conceito do destino que não pode ser mudado se tornou o alicerce para um novo tipo de desavio nas narrativas. Mas nossa tradição cultural não se baseia apenas na cultura grega.

O judaísmo-cristão estabeleceu outras possibilidades, pois a profecia nesta tradição difere de como ela é trabalhada pelos gregos. Se para estes a profecia era uma tragédia anunciada que não podia ser modificada, para os judeus ela era uma chance para o arrependimento, e este poderia mudar o destino anunciado.

A dualidade entre estes dois conceitos continuaria sendo abordado pela literatura moderna, mas de uma outra maneira: a viagem no tempo.

DA MAGIA ÀS MÁQUINAS DO TEMPO

O livro “Um Conto de Natal” (A Christmas Carol, de Charles Dickens – 1843) retoma o tema do destino . Neste clássico conto de Natal três fantasmas visitam o personagem Ebenezer Scrooge. Eles o levam a reviver momentos do passado, presente e futuro. Essa experiência transformadora revela a Scrooge a influência de suas ações passadas e presentes sobre o seu destino, pois a linha do tempo que os fantasmas lhe mostram o confronta com sua mesquinhez, oferecendo uma oportunidade de mudança e redenção.

Ainda com abordagem mística, mas já com elementos modernos, temos “Um Yankee na Corte do Rei Arthur” (A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court, 1889), escrito por Mark Twain. O livro conta a história de um engenheiro, Hank Morgan, que magicamente sai do século XIX e vai para a era do Rei Arthur na Inglaterra medieval.

Utilizando seu conhecimento técnico avançado, Morgan tenta modernizar a sociedade da época, mas acaba enfrentando desafios e contratempos. Neste romance, o personagem principal retorna ao passado e lida com as diferenças culturais e tecnológicas entre as duas épocas, explorando tanto as possibilidades quanto as dificuldades de tentar mudar o curso da história. Esta pode ser realmente considerada uma das primeiras histórias de viagens no tempo.

A MÁQUINA QUE PODIA MUDAR O DESTINO

Ter o destino nas mãos era um tema interessante para o homem ocidental, principalmente na sociedade que se formava após a Revolução Industrial. Ao tema que Dickens e Twain abordaram de forma mística, o controle sobre o destino, acrescentou-se um novo elemento: uma máquina. No século XIX a ciência tomou o lugar da magia, pois a sociedade ocidental viu surgir uma nova crença, a de que qualquer coisa estava ao alcance dos homens através de sua ciência, de suas máquinas. Inclusive o destino.

Em 1895 H.G. Wells publicou o livro The Time Machine, um marco importante neste gênero de literatura. O livro tirou o tema do misticismo e o trouxe para a ficção científica. Wells conta a história de um inventor que constrói uma máquina capaz de viajar para o futuro.

O protagonista explora diferentes eras da humanidade e testemunha a evolução e decadência da sociedade ao longo do tempo. Assim, o livro “A Máquina do Tempo” estabeleceu muitos conceitos e argumentos do gênero de viagem no tempo, sendo uma importante influência para obras subsequentes. O viajante do tempo se vê diante de futuros divergentes, os quais sugerem que o destino da humanidade modifica-se por suas ações e escolhas ao longo do tempo.

LIVROS RECENTES DE VIAGENS NO TEMPO

Outros livros de viagens no tempo retomariam o tema no século XX, de forma cada vez mais frequente. No livro “O Fim da Eternidade” (1955), de Isaac Asimov, o conceito de destino assume um formato corporativo, com a organização Eternidade, que permite viagens no tempo para alterar a história humana e melhorar suas condições.

Em “Time and Again” (1970), de Jack Finney, o personagem principal, Si Morley, participa de um experimento que o transporta de volta ao passado, mais especificamente para a Nova York de 1882. O livro explora a teoria de que o passado é imutável, porque qualquer tentativa de mudá-lo pode ser fútil. Em Operação Cavalo de Troia, série escrita pelo autor espanhol J.J. Benítez entre 1986 e 2011, na qual dois viajantes do tempo retornam à época da crucificação de Jesus, o objetivo é apenas investigar o passado e não altera-lo.

A MÁQUINA DO TEMPO NO CINEMA

No cinema, o filme mais antigo conhecido sobre viagens no tempo é “La Jetée” (1962), dirigido por Chris Marker. É um curta-metragem experimental francês em preto e branco. Ele narra a história de um homem que viaja ao passado e ao futuro por meio de viagens temporais. Embora seja um curta, muitos filmes posteriores sobre viagens no tempo consideram “La Jetée” como um marco no gênero de ficção científica.

O tema seria explorado novamente em outros filmes como O Exterminador do Futuro, De Volta para o Futuro, Os 12 macacos, Efeito Borboleta, e muitos outros, pois são filmes que estão sempre retomando questões sobre determinismo e livre arbítrio, e inserindo novos: os paradoxos temporais e os Butterfly Effects.

PARADOXOS TEMPORAIS E BUTTERFLY EFFECT

O paradoxo temporal é um dos temas centrais nas histórias de viagens no tempo. Ele surge quando uma ação no passado afeta o futuro, resultando em uma contradição lógica. Afinal o viajante do tempo muda o passado, tornando sua própria existência algo estranho, paradoxal. Esse tema levanta questões sobre causalidade e determinismo, explorando as implicações de mudar eventos passados e como isso pode alterar o curso da história.

Já a teoria do Butterfly Effect, ou efeito borboleta, afirma que pequenas alterações no passado podem ter efeitos drásticos e imprevisíveis no futuro. Essas narrativas exploram, dessa forma, como as ações dos personagens podem criar linhas do tempo alternativas e até mesmo mudar a realidade como eles a conheciam.

TENSÕES OCULTAS

Assim, tanto nas tragédias gregas como nas histórias modernas de viagens no tempo há uma reflexão sobre a condição humana e os limites da sua compreensão do tempo e do destino. Os personagens gregos frequentemente se confrontam com a inescrutabilidade do destino e a impotência em face das forças divinas.

Da mesma forma, as complexidades e consequências imprevistas de suas ações confrontam os viajantes do tempo. Muitas vezes, inclusive, fazem com que os personagens percebam que, mesmo com o poder de manipular o tempo, ainda estão sujeitos a um conjunto de leis e resultados inevitáveis.

Portanto, pensando um pouco mais longe, a luta do homem contra o tempo e o destino parece simbolizar algo mais próximo da realidade. Isso porque sua tentativa de burlar as estruturas sociais rígidas que os cercam é algo bem palpável em nosso mundo presente. No mundo grego e romano, as tragédias tinham o fim social de desencorajar insurreições.

Na Europa medieval, os reis governavam com poder divino, sendo útil manter a ideia de que o destino era algo imutável. Na Revolução Industrial e Iluminista, o homem revolta-se contra essas forças de controle, confrontando o determinismo com a sua vontade de mudar.

Assim, essas duas ideias, livre arbítrio e destino, retomadas na moderna literatura de viagens no tempo, mantinham viva a tensão entre o que pode ou não ser mudado. E também que consequências poderiam surgir dessas mudanças.

Se não viu a primeira parte, confira abaixo:

Viagens no tempo e tragédias gregas? – Parte 1

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viagens no tempo parte 2

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