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Viagens no tempo e tragédias gregas – Parte 1

As TRAGÉDIAS GREGAS têm alguma coisa a ver com viagens no tempo? Como isso se conecta?

Bem antes dos filmes e séries recentes especularem sobre viagens no tempo, os gregos já teorizavam sobre as impossibilidades de mudar o próprio destino. Mas eles conheciam a ideia de viagem no tempo?Seriam as tragédias gregas as antecessoras das viagens no tempo? Por que histórias como De Volta para o Futuro, Outlander, Em algum lugar do passado, nos fascinam tanto?

VELHOS TEMAS COM NOVAS ROUPAGENS

As histórias sobre viagem no tempo e as tragédias gregas que tratam sobre o destino compartilham uma conexão temática profunda. Ambos os gêneros exploram a interação entre a ação humana e a inevitabilidade do destino. Na mitologia grega, o destino, era inexorável e irrevogável, guiando o curso da vida dos seres humanos. Da mesma forma, nas histórias de viagem no tempo, os personagens frequentemente enfrentam o desafio de tentar alterar o curso do destino, mas muitas vezes se deparam com obstáculos que parecem levar aos mesmos resultados pré-determinados.

AS MOIRAS E O FIO DO DESTINO

Na mitologia grega, as Moiras personificavam o destino dos homens. As três irmãs, Cloto, Láquesis e Átropos, controlavam o fio da vida de cada ser humano, determinando seu nascimento, o curso de sua existência e seu fim. Cloto tecia o fio da vida, Láquesis determinava seu comprimento, e Átropos o cortava.

Mesmo os deuses eram sujeitos às decisões das Moiras, o que evidenciava sua supremacia sobre o curso da vida. Suas ações eram, assim, inevitáveis e incontestáveis, transmitindo a ideia de que o destino de cada pessoa estava além do controle humano.

As tragédias, principal gênero literário grego da antiguidade, registraram toda a angústia que essa crença no destino imutável causava ao povo daquela época. Síntese do pensamento do seu tempo, estas peças traziam o homem como uma peça no tabuleiro do destino, e por mais que tentasse escapar sempre caía no mesmo fim. Ironicamente, estes homens buscavam conselhos e previsões sobre o futuro nos oráculos, numa vaga esperança de poder mudar seu desfortúnio.

As tragédias gregas antecipavam, assim, um tema caro às viagens no tempo: é possível mudar o destino?

AS TRAGÉDIAS GREGAS E O DESTINO

Este gênero viu seu auge no século V a.C, com grandes autores como Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Um bom exemplo é “Édipo Rei”, de Sófocles, na qual uma profecia faz o rei tentar matar o filho pra evitar a própria morte, mas acaba morto em suas mãos anos depois.

Saber o destino cria a ilusão no homem de que pode evitá-lo, que pode lutar contra o domínio dos deuses, mas a conclusão das tragédias é justamente o contrário.

O DESTINO NA LITERATURA HEBRAICA

Outras culturas, como a hebraica, possuíam visões diferentes sobre o destino. O profeta, nos livros hebraicos, tinha visões que mostravam o futuro dos reis, do povo, mas deixavam uma possibilidade de fuga. A profecia era parte de um julgamento, e este vinha com uma sentença e uma condição para escapar dela.

Mas o destino não é fatal, e por isso Deus envia Jonas para alertar os ninivitas e assim evitar a fatalidade prevista. Para a literatura hebraica, portanto, diferente das tragédias gregas, o destino pode ser mudado, o que também será trabalhado nas histórias de viagens no tempo.

O DESTINO PARA SANTO AGOSTINHO

A cultura ocidental emergiu, assim, destas duas visões sobre destino. Isso porque pensadores como Santo Agostinho refletiam sobre a dualidade dessas interpretações. Ele acreditava que o destino estava intrinsecamente ligado à vontade de Deus, o qual tinha um plano para toda a criação e para a humanidade.

Assim, defendia que o destino de cada pessoa estava predestinado por Deus desde a eternidade, e esse destino era parte de uma ordem maior e perfeita estabelecida pelo Criador.

No entanto, Agostinho também enfatizava a importância do livre arbítrio humano. Ele argumentava que, embora Deus tivesse um plano divino para cada indivíduo, as escolhas e ações humanas eram reais e tinham consequências. Agostinho considerava que o livre arbítrio era um presente de Deus, mas estava limitado pela natureza pecaminosa do ser humano. Para Agostinho, a reconciliação entre o destino e o livre arbítrio residia na graça divina.

Na próxima parte mostraremos como estas questões levantadas serão usadas nas histórias de viagens no tempo. E também como surgiram as primeiras máquinas do tempo.

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Viagens no tempo e tragédias gregas